O PROFETA NÃO CONCORDA
COM HOLOCAUSTOS
Moisés desceu do monte Sinai com
as leis que poriam ordem no acampamento do povo de Israel, onde havia muito “disse-me,
disse-me” e até murmuração contra Moisés (Ex. 17,3) e contra o próprio Deus que os libertara da
servidão no Egito (Ex. 16,1ss), além de roubos e de uns mexerem com a mulher dos
outros gerando brigas constantes.
Por sinal eram leis fundamentais
e bem elaboradas, mas que não seriam suficientes para manter a paz entre o povo
se o autor dessas leis não fosse severo e oculto aos olhos humanos. Por isso, no livro do
Êxodo, a seguir aos mandamentos, fala-se em trovões, relâmpagos, som de
trombetas e a montanha fumegando. O povo ficou apavorado e diz a Moisés:
- "Fala-nos tu, e nós ouviremos;
não nos fale o Senhor, não suceda morrermos.” (Ex. 20,19).
A figura do Deus bom, que tirou o
povo da escravidão (Ex. 20,1-2), que mandou codornizes e maná (Ex 16,4ss), que
lhe deu água boa tirada do rochedo (Ex. 17,1ss), não funcionou. As leis impostas
por esse Deus bom também não iriam dar o resultado pretendido, por isso Moisés
passou da bondade de Deus para o medo do Deus dos trovões, relâmpagos e fogo (Ex.
20,18), que se esconde na escuridão (Ex. 20,21), e que lhes fala do alto do céu (Ex.
20,22), de onde determina o que quer:
- “Não fareis para vós deuses de
prata, nem de ouro” (Ex. 20,23),
- “Fareis um altar de terra e
oferecereis sobre ele os vossos holocaustos pacíficos e cruentos...frutos da
terra e ovelhas, cabras, bois...em todo o lugar onde se fizer memória do meu nome” (Ex.
20,24), para eu vos abençoar (Ex. 20,24).
Moisés ficou muito decepcionado
porque nem a bondade de Deus, nem as leis gerais, nem o medo de Deus funcionaram.
Homens de "servis
dura"! Nem com holocaustos conseguiram tapar os olhos de Deus. Foi preciso
partir para a punição severa, dos infratores da lei, para acabar, ou pelo menos
diminuir, os problemas sociais mais graves que estavam pondo em risco o sucesso da
emigração do povo de Israel para a terra da promissão:
- "Quem matar ou ferir um homem, querendo matá-lo, seja punido
de morte" (Ex. 21,12 e 14).
- "Quem ferir ou amaldiçoar seu pai ou sua mãe, seja punido
de morte" (Ex. 21,15 e 17).
- "Quem roubar um boi, ovelha e os matar ou vender restituirá
cinco por cada boi e quatro por cada ovelha. Se não tiver com que pague, ele
mesmo seja vendido" (Ex. 22,1 e 3).
- "Quem seduzir uma donzela tomá-la-á por mulher" (Ex. 22,16)
- "Quem pecar com um animal, seja punido de morte" (Ex. 22,19)
- "Quem sacrificar aos deuses, ou fizer feitiços, seja morto" (Ex.
22,18 e 20)
Deus foi pressionado a mandar seus profetas porque não estava
contente com o comportamento do seu povo, mesmo nas solenidades ou quando enchiam os templos orando ou oferendo
seus holocaustos.
Eis que surge o profeta Isaías clamando:
- "De que me serve a multidão de vossas vítimas? Diz o
Senhor. Já estou farto delas. Não quero mais holocaustos de carneiros, nem
gordura de animais cevados, nem sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de
bodes.... o incenso é para mim abominação ... quando estenderdes as vossas mãos
apartarei de vós os meus olhos, quando multiplicardes vossas orações não as
atenderei porque as vossas mãos estão cheias de sangue.... lavai-vos,
purificai-vos tirai diante de meus olhos a malícia dos vossos pensamentos...
CESSAI DE FAZER O MAL, APRENDEI A FAZER O BEM:
- "Procurai o que é justo;
-" Socorrei o oprimido;
- "Fazei justiça ao órfão;
- "Defendei a viúva
.... depois vinde, farei que vossos pecados fiquem brancos
como a neve". (Is. 1,11-18)
Não tenho a mínima dúvida de que o
profeta tenha sido inspirado ao colocar na boca de Deus a reprovação
dos holocaustos, novenas, e orações que não partam do coração. Deus não quer
holocaustos, calendas, gritarias, nem incenso... quer de todo o homem, de toda
a mulher, uma coisa muito simples mas essencial:
- FAZEI O BEM... CESSEM DE FAZER O MAL (Is.
1,16-17)
O conhecimento do que é o “bem” e
o que é o “mal” foi infundido pelo Criador com o sopro de vida ao criar o homem e a mulher.(Gen. 1, 24-30).
Faz parte do "software" do fabricante. Não foi quando dizem que Deus disse:
- “Come de todas as árvores do
paraíso mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal porque em
qualquer dia que comeres dele morrerás indubitavelmente” (Gen. 2, 16-17).
Não foi. A historinha da "maçã proibida" só serve para explicar às crianças que Deus fica triste quando alguém lhe desobedece. Houve um primeiro pecado, na nossa vida, quando também desobedecemos sabendo que Deus não queria que fizéssemos isso. É uma historinha educativa.
Não foi a história da maçã, primeiro porque a lei
proibitória foi dada só ao Adão; segundo, porque Adão comeu e não morreu; terceiro,
porque quem lhe ofereceu o fruto foi Eva, que não sabia de nada. Ela ainda não
tinha sido criada. A formação da mulher se deu depois que Deus proibiu Adão de comer da árvore do bem e do mal, como
consta em Gên. 2, 22). Eva foi punida inocentemente. Ela não podia ser punida por desobediência a uma lei que desconhecia ou que não lhe foi dada. Deus não faria uma coisa
dessas.
Os muitos Adões e as muitas Evas,
criados por Deus em todo o universo, sabiam, e sabem, que o bem é tudo o que torna homens e mulheres,
a si mesmos e aos outros, realizados e felizes; e sabem também que o mal é tudo
aquilo que prejudica e torna infeliz tanto a si mesmos quanto aos outros. Daí nasceu um princípio de vida fundamental: (Não prejudicarás mas) “Amarás o teu amigo como a ti mesmo". (Eu sou
o Senhor). (Levítico 19,18).
Tanta confusão, tanto medo de Deus, ainda hoje, quando a lei,
de Deus mesmo, é clara:
- Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós
mesmos.
Esta lei só será aperfeiçoada com a vinda do Filho de Deus.
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